quarta-feira, 24 de março de 2010

Um céu de diamantes em um teatro de latão

No último sábado fui, enfim, assistir a tão falada peça “Beatles num céu de diamantes”, em cartaz agora no Teatro Rio Sul. 

Cabe aqui um parágrafo sobre o “teatro”. Confesso que não entendi como um shopping como o Rio Sul apresenta uma coisa tão improvisada como aquela. Em parte do estacionamento foi montada uma estrutura tubular, cercada por lonas e forrações de gesso. Os assentos são cadeiras comuns (até confortáveis) presas com “pulseiras” de alumínio pregadas ao chão de tábuas de madeira. O palco (relativamente pequeno) fica, inexplicavelmente, mais à esquerda da platéia, obrigando os espectadores no lado direito a assistir ao espetáculo com o pescoço torto. O som não chega a comprometer, mas faltam uns subwoofers pra ressaltar os graves. A dúvida que fica é: Será esse um espaço provisório ou o Rio Sul pretende manter um teatro nessas condições?

Mas voltando aos “Beatles”. A peça, na verdade, é quase um show. Há sim encenações e outros elementos teatrais, mas o que se ouve é 100% música dos Beatles. Não há falas em nenhum momento. Os arranjos originais foram desconstruídos de forma até surpreendente. “I Wanna Hold Your Hand” virou um tango e “Yesterday” e “Let it Be” são cantadas simultaneamente sobre a mesma harmonia. 

O resultado é muito bom, sobretudo pela qualidade do elenco. Apesar de uma certa superioridade da ala feminina do espetáculo, o conjunto funciona muito bem. O que falta de precisão em alguns é compensado por outros e pela harmonia de vozes, usando e abusando de terças, quintas e oitavas.

A enxuta banda também funciona. Uma pianista, que canta uma música no fim; um percussionista, que é um dos atores-cantores da peça; e o excelente violoncelista Lui Coimbra, que às vezes parece ser o único a tocar esse instrumento no país tamanha é sua presença em shows de artistas de todos os gêneros, como Alceu Valença, Ana Carolina, Zeca Baleiro, Ney Matogrosso, entre outros.

“Beatles num céu de diamantes” é um espetáculo que vale a pena ser visto mesmo por aqueles, que como eu, não conhecem profundamente o trabalho do quarteto de Liverpool. A estrutura criada por Charles Möeller e Claudio Botelho faz até os 25% de “não-hits” que compõe o repertório soarem interessantes. Fica só a torcida por um local melhor na próxima temporada...

Um comentário:

Leonardo Martins de Araújo disse...

Já há algum tempo, tenho muita vontade de assistir a essa peça, mas acabei não indo. Ao ler o seu post, me motivei, especialmente pelas informações musicais e também pela contextualização da sala de espetáculo, à qual também nunca fui. Também, agora já não serei surpreendido pelo teatro "meio mambembe". Achei ótimo o texto! O Sons e notas entrou para minha lista de fontes de informação!