sexta-feira, 9 de abril de 2010

Estrelismos e Rock N`Roll

Eis que depois de alguns anos, tempestade e palco caindo, o Guns N´Roses conseguiu fazer o seu show nessa cidade “inundadamente” maravilhosa. Por sorte, os sinais desse colapso que atingiu o Rio ainda eram fracos no último domingo e pude conferir a apresentação na “confortável” Praça da Apoteose 

O horário marcado no ingresso era 20h30. E foi essa hora que cheguei. Não que esperasse que os shows começassem pontualmente, mas ainda sofro com um hábito ultrapassado de chegar aos lugares na hora marcada.

A Apoteose estava bem cheia. Algo entre 30 e 35 mil pessoas aguardavam o início do show do Sebastian Bach, ex-vocalista da banda Skid Row, sucesso no início da década de 90, que faria a abertura da noite (antes ainda se apresentou a banda carioca Majestike, que não tive a oportunidade de assistir). 

Às 21h10 Sebastian subiu ao palco. Ao contrário do que veríamos no show seguinte, ele esbanjou simpatia, conversando o tempo todo com o público, usando e abusando das frases “coladas” em português. No repertório, como esperado, as músicas que mais levantaram a galera foram as de sua antiga banda: “Slave to the Grind”, “Monkey Business” e, principalmente, as baladas “18 & Life”, “In a Darkened Room” e “I Remember You”. Todas dos dois primeiros álbuns da banda: "Skid Row", de 1989 e "Slave to the Grind", de 1992. A voz de Bach segue em forma e a banda que o acompanha, mesmo sem um grande destaque, segura a onda.

Às 22h30 Sebastian Bach encerrou o seu show e o martírio se iniciou. Frequento shows há pouco mais de quinze anos, entendo que existe um tempo necessário para se desmontar o equipamento de uma banda e montar o palco para a apresentação seguinte. 40 minutos ou até 1 hora é mais do que suficiente. Assim sendo, pouco antes das 23h30, tudo estava pronto e não havia mais movimentação no palco. Se não fosse o Guns N´Roses que iria se apresentar, isso significaria que o show estava para começar. 

Mas com Axl Rose as coisas não são assim. Em todos os shows da turnê sulamericana ele atrasou o show em duas horas ou mais. E era esse o receio que rondava a Apoteose àquela altura. Já passava da meia noite, o som mecânico seguia rolando e a platéia demonstrando nítidos sinais de impaciência. Vaias, xingamentos e um princípio de confusão quando alguns mais exaltados começaram a atirar copos e latas no pessoal da mesa de som, formavam o cenário provocado pelo estrelismo de Axl. Muita gente foi embora nesse longo intervalo.

Eis que, finalmente, 1h da manhã Axl Rose deu as caras. Abriram o show com a faixa-título de seu último disco, “Chinese Democracy”. Ao fim da primeira música ainda era possível ouvir vaias e adjetivos carinhosos dirigidos à mãe de Axl. Depois disso começou a sequência de sucessos que fez do Guns N´Roses a maior banda de rock do planeta há quase vinte anos atrás: “Welcome to the Jungle” e “Sweet Child O´Mine” (de Appetite for Destruction, 1987), “You Could Be Mine” (de Use Your Ilusion 2, 1991), “November Rain” (de Use Your Ilusion 1, 1991), além dos covers “Live And Let Die” (Paul McCartney, 1973) e “Knockin´ On Heaven´s Door” (Bob Dylan, 1973).

O show seguiu com uma mescla entre antigos sucessos e músicas do último disco. A voz de Axl está bem melhor do que na época do Rock in Rio 3, em 2001, mas bem distante das gravações originais. O resto da banda é extremamente competente (apesar de um pouco numerosa demais: pra que três guitarristas e dois tecladistas?) e os efeitos de luzes e fogos interessantes. Mas confesso que toda a espera e o desprezo da banda com o público (nem um “Good Evening”, que dirá um pedido de desculpas pelo atraso, foi ouvido) tiraram um pouco da graça do show. Já próximo das três da manhã, entreguei os pontos e fui embora. 

Fiquei sabendo depois que o show acabou às 3h30 e que perdi as clássicas “Paradise City” (de Appetite for Destruction, 1987) e “Patience” (de G N´R Lies, 1988). Se bem que a paciência eu já tinha perdido há muito tempo.


quarta-feira, 24 de março de 2010

Um céu de diamantes em um teatro de latão

No último sábado fui, enfim, assistir a tão falada peça “Beatles num céu de diamantes”, em cartaz agora no Teatro Rio Sul. 

Cabe aqui um parágrafo sobre o “teatro”. Confesso que não entendi como um shopping como o Rio Sul apresenta uma coisa tão improvisada como aquela. Em parte do estacionamento foi montada uma estrutura tubular, cercada por lonas e forrações de gesso. Os assentos são cadeiras comuns (até confortáveis) presas com “pulseiras” de alumínio pregadas ao chão de tábuas de madeira. O palco (relativamente pequeno) fica, inexplicavelmente, mais à esquerda da platéia, obrigando os espectadores no lado direito a assistir ao espetáculo com o pescoço torto. O som não chega a comprometer, mas faltam uns subwoofers pra ressaltar os graves. A dúvida que fica é: Será esse um espaço provisório ou o Rio Sul pretende manter um teatro nessas condições?

Mas voltando aos “Beatles”. A peça, na verdade, é quase um show. Há sim encenações e outros elementos teatrais, mas o que se ouve é 100% música dos Beatles. Não há falas em nenhum momento. Os arranjos originais foram desconstruídos de forma até surpreendente. “I Wanna Hold Your Hand” virou um tango e “Yesterday” e “Let it Be” são cantadas simultaneamente sobre a mesma harmonia. 

O resultado é muito bom, sobretudo pela qualidade do elenco. Apesar de uma certa superioridade da ala feminina do espetáculo, o conjunto funciona muito bem. O que falta de precisão em alguns é compensado por outros e pela harmonia de vozes, usando e abusando de terças, quintas e oitavas.

A enxuta banda também funciona. Uma pianista, que canta uma música no fim; um percussionista, que é um dos atores-cantores da peça; e o excelente violoncelista Lui Coimbra, que às vezes parece ser o único a tocar esse instrumento no país tamanha é sua presença em shows de artistas de todos os gêneros, como Alceu Valença, Ana Carolina, Zeca Baleiro, Ney Matogrosso, entre outros.

“Beatles num céu de diamantes” é um espetáculo que vale a pena ser visto mesmo por aqueles, que como eu, não conhecem profundamente o trabalho do quarteto de Liverpool. A estrutura criada por Charles Möeller e Claudio Botelho faz até os 25% de “não-hits” que compõe o repertório soarem interessantes. Fica só a torcida por um local melhor na próxima temporada...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Do "Super NES" ao "Playstation3" via "Rock Band"


Há muito tempo, desde que troquei meu Super Nintendo pela guitarra no início da década de 90, não me interessava por videogames. Nem mesmo por jogos de computador. Não era nenhuma questão do tipo “Não sou mais criança pra ficar brincando com esses joguinhos”. Era uma falta de interesse mesmo. Passei a achar mais interessante investir o meu dinheiro em CDs (que ainda eram baratos naquela época) do que em cartuchos de jogos. Isso até o fim do ano passado, quando na casa de um amigo conheci o tal do Rock Band.

É claro que já tinha ouvido falar de Rock Band e Guitar Hero. Mas não sabia (ou não queria saber) bem do que se tratava. Achava que era mais um jogo qualquer e que não teria a mínima graça pra alguém que já tocasse um instrumento musical de verdade. De fato, quebrei a cara.

Em pouco mais de duas horas vi que a brincadeira era realmente interessante. Principalmente jogando com mais de uma pessoa. Os que nunca tocaram um instrumento vão ter pela primeira vez a sensação de estar em uma banda. Os que tocam, vão se divertir do mesmo jeito com a “realidade” que o jogo passa. Você só escuta as notas que foram tocadas corretamente. Se errar muito, recebe vaias. Se continuar errando, seu “show” é interrompido você, expulso do palco.

Além de tudo, as músicas foram escolhidas para agradar qualquer um que tenha curtido rock e pop em algum momento entre os anos 60 e 2000. Vai de Beatles à System of a Down, passando por Bon Jovi, Pearl Jam, Black Sabbath, Metallica, Alanis Morissette, e muitos outros. 

Rock Band e Guitar Hero são na verdade dois jogos diferentes, mas com a mesma estrutura. Nos dois é possível jogar até quatro pessoas ao mesmo tempo, tocando guitarra, bateria, baixo e cantando. O que complicava era que até bem pouco tempo atrás, os instrumentos do Rock Band não funcionavam direito no Guitar Hero e vice-versa. As últimas edições dos dois jogos passaram a ser compatíveis, facilitando bastante a vida dos “músicos”, que agora podem comprar os instrumentos de um jogo e jogar no outro, aproveitando a variedade de títulos das duas marcas.

Tudo mudou no mundo dos games nesse tempo em que estive afastado. Hoje muitos jogos estão disponíveis para todos os consoles do mercado (sem aquela exclusividade da era “Sega ou “Nintendo”), os cartuchos não existem mais e as mídias usadas são o DVD e o Blu-ray, é possível se jogar online com qualquer pessoa no mundo e baixar jogos via wireless pelo próprio videogame.

Isso tudo resulta num significativo aumento no custo de todos esses produtos. A brincadeira, incluindo o console, jogos e o kit de instrumentos, por exemplo, não sai por menos de US$ 500,00, isso comprando nos Estados Unidos. Aqui no Brasil nem se fala. Mas posso garantir que o investimento vale a pena. Como escolhi o Playstation 3, ainda ganhei de quebra um blu-ray player (o aparelho do Playstation 3 é o único no mercado que reproduz os discos de blu-ray). 

Segue um vídeo de divulgação do “Rock Band: Beatles”, lançado em 2009:


"November" ou "March Rain"?

Ainda não foi dessa vez que pude avaliar a quantas anda o “gogó” do encrenqueiro-mor do rock mundial, Axl Rose. Não foi a "november", mas a "march rain" que veio com tudo no último domingo, levando parte do palco em que a banda se apresentaria naquela noite. Felizmente, auxiliado pela praticidade de acessar à internet via celular, soube do cancelamento do show antes de partir rumo à Apoteose.

Axl Rose, ao contrário de sua postura habitual, se mostrou solidário e através de seu Twitter, lamentou o cancelamento da apresentação e disse para todos “se manterem seguros”. Agora, queria ver o que ele diria se a chuva caísse algumas horas mais tarde e o palco desabasse durante a apresentação da banda. Certamente o Rio de Janeiro não veria nunca mais um show do Guns N´Roses.

Tudo indica que o show no Rio será remarcado para o início de abril, depois de a banda passar por Uruguai, Argentina, Chile, Perú, Colômbia e Equador. Até lá tenho quinze dias pra pensar se é melhor ir pra Sapucaí, com risco de levar mais água na cabeça, esperar três horas pro início do show e, muito provavelmente, ver um cantor em franca decadência; ou pegar meus 90 reais de volta. O pior é que sou insistente e vou acabar ficando com a primeira opção.

Vai aqui um vídeo gravado pelo baterista da banda do Sebastian Bach, que abriria o show daquela noite. Ele estava na Apoteose na hora da tempestade:

terça-feira, 9 de março de 2010

Dos ´bootlegs´ ao Youtube

Depois de um sábado ilhado por causa da chuva que afogou o Rio de Janeiro e um início de semana gripado (espero que não “suinamente”), aproveitei a manhã desta terça para apurar como foi show o primeiro show da turmê sul-americana do Guns N´Roses, em Brasília, no último domingo.

“Mas outro post falando de Guns N´Roses? Não tem mais nada pra falar não??”

Pois é. Outro post. E provavelmente terá mais um na semana que vem pra dizer como foi a apresentação da banda na Praça da Apoteose, no próximo domingo. Depois prometo que coloco Axl Rose e cia. de volta ao ostracismo em que viveram nos últimos quinze anos.

Mas o fato é que saber como foi um show hoje é tão simples que até me esqueço do trabalho que dava há uns anos atrás.

Em meados da década de 90, quando algum artista anunciava shows por aqui, começava a busca por informações. “Qual será o repertório?”, “Fulano ainda consegue cantar tal música?”, “Como é a estrutura do show? Palco, luz, som?”.

Para tentar encontrar essas respostas tínhamos apenas poucas revistas e algumas matérias de jornal, isso quando o artista tinha um certo nome. Havia também os bootlegs, CDs gravados em shows e lançados sem qualquer controle dos artistas, com qualidade de som, na maioria das vezes, bem precária. Os bootlegs eram vendidos em lojas de disco menores, geralmente escondidas em galerias, e chegavam às prateleiras um ou dois meses após os shows, o que era bem rápido no padrão da época. Com essas gravações já dava pra ter uma idéia de como seriam os shows.

Hoje, claro, é tudo bem diferente. Em pouco mais de quinze minutos de busca eu já tinha o set list tocado pelo Guns em Brasília, os vídeos de quase todas as músicas executadas no Youtube, além de fotos e matérias de diversos blogs e jornais online.

Para alguns, isso pode estragar a surpresa na hora do show, para uns vai apenas aliviar a curiosidade e para outros pode até determinar se vale a pena gastar a fortuna que se cobra por um ingresso para um show no Brasil (vale um comentário: em janeiro de 2001, no Rock In Rio 3, paguei R$ 17,50 para ver o Guns N` Roses. Em 2010, R$ 90,00. Precisa falar mais alguma coisa?).

Para quem quiser saber os repertórios das bandas, esse site é bem interessante. Muitas vezes os setlists são atualizados em tempo real por quem está nos shows:


O set list do Guns N´Roses em Brasília:









quinta-feira, 4 de março de 2010

Era uma vez o CD...

Com o show do Guns N´Roses se aproximando, resolvi escutar com atenção o tão aguardado “Chinese Democracy”, lançado em 2008, depois de mais de dez anos de gravações, regravações, mixagens e remixagens. 

Ok, eu sei. Tive quase dois anos pra escutar o álbum e só o fiz agora, nas vésperas do show. Mas hoje é assim. A oferta de músicas é tão grande que não conseguimos escutar tudo o que queremos. Parece que o mercado fonográfico só diminui e a cada ano temos mais coisas pra ouvir. 

Mas voltando ao “Chinese”, minha primeira reação foi procurar o disco no meu Ipod. Não estava lá. Recorri então à minha empoeirada estante de CDs (fiquei pensando como vou explicar a meu futuro filho que eu precisava de uma estante pra guardar 1% da quantidade de músicas que ele vai carregar no bolso). Confesso que nem me lembrava que tinha esse CD. Provavelmente comprei, no mesmo dia passei para MP3 e nunca mais toquei nele. Mas ele estava lá. Quase intacto. Sem aquele aspecto de usado que os CDs tinham no tempo em que viviam uma rotina bem mais animada entre o CD player, o carro e o Discman. Nada de caixinhas rachadas, livretos amassados ou aqueles benditos “dentinhos” que prendem os discos quebrados.

Como ia sair, aproveitei para escutar o CD no carro. Outra coisa que tinha tempo que não fazia. Desde que os auto-rádios passaram a ter entradas para Ipod e MP3 players, não me lembro de ter colocado um cd sequer.

Não vou entrar aqui numa crítica em relação ao “Chinese Democracy” (cada vez tenho mais dificuldade em avaliar um cd na primeira audição). O legal foi poder escutar aquelas 14 músicas na ordem em que foram pensadas para serem escutadas. Sem randons ou shuffles pra bagunçar o momento. Chegando em casa ainda folheei o encarte buscando aquelas informações quase inúteis, mas que faziam parte daquele ritual, de certa forma, incompatível com os dias de hoje.

Mas chega de saudosismo. É claro que sou um obsessivo adepto de toda essa tecnologia que cerca o meio musical. Valorizo muito poder carregar meus 200 discos preferidos comigo pra todo lugar e acho que o futuro da música está nos arquivos digitais e não nas mídias físicas. Mas foi bom, pelo menos por um dia, voltar a ter apenas 14 músicas na minha playlist.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Fronteras" na trilha sonora

Quem me conhece sabe que não sou um grande apreciador da gastronomia a quilo, mas pra quem não come saladas e busca uma refeição sem carboidratos, acaba sendo uma solução.

Resolvi hoje, então, conhecer o Frontera, tido como um dos melhores restaurantes nesse segmento.

A comida em si não me chamou muito atenção. Continuo separando os restaurantes a quilo em duas categorias: os possíveis de se comer e os impossíveis. No Frontera é possível.

O que me intrigou foi a trilha sonora. Sei que pouca gente repara no que está tocando, muitas vezes bem baixinho, nos barulhentos restaurantes na hora do almoço. Mas a minha obsessão musical não me permite essa confortável abstração.

Fiquei tentando entender o que “I Will Follow” (U2, 1980), “Show me The Way” (Peter Frampton, 1974) e “Your Love” (Outfield, 1986) tinham a ver com aquele ambiente. Olhei ao redor e vi cartazes com referências à diversos lugares do mundo, do oriente e do ocidente.

Chegando em casa, resolvi entrar no site deles (www.frontera.com.br) pra ver se entendia melhor a proposta. Logo de cara começou a rolar um rock com clima meio down. Cliquei em conceito. Lá dizia tudo aquilo que a ambientação (exceto a música) tentava mostrar:

... um mundo livre, sem fronteiras... um mundo quente e frio... uma viagem gastronômica do ocidente ao oriente...

Sem dúvida isso não remete ao rock dos anos 70 e 80. Cairia bem melhor algo na linha do que convencionou-se chamar de “world music”, e que, na minha concepção nada mais é do que música de países que não tem o espaço na mídia dado à música mainstream dos Estados Unidos e da Inglaterra.

Um exemplo: a música brasileira é vista como “world music” em outros lugares do mundo. É uma música, salvo raras exceções, pouco executada (em relação aos megahits anglo-americanos) mundo afora. É vista como algo quase exótico.

Para se ter uma idéia geral da tal “world music”, recomendo os CDs da gravadora norte-americana Putumayo (www.putumayo.com). São mais de 80 títulos segmentados por regiões e países com uma boa amostra de artistas pouco conhecidos por aqui. Vale a pena conferir.

Voltando ao Frontera, ao menos as canções executadas eram as versões originais. Nos pouparam dos “Emersons Nogueiras” e “Dani Carlos” da vida...

Vai aqui uma amostra de um artista presente nos álbuns da Putumayo:

Habib Koité - "Wassiye"