Eis que depois de alguns anos, tempestade e palco caindo, o Guns N´Roses conseguiu fazer o seu show nessa cidade “inundadamente” maravilhosa. Por sorte, os sinais desse colapso que atingiu o Rio ainda eram fracos no último domingo e pude conferir a apresentação na “confortável” Praça da Apoteose
O horário marcado no ingresso era 20h30. E foi essa hora que cheguei. Não que esperasse que os shows começassem pontualmente, mas ainda sofro com um hábito ultrapassado de chegar aos lugares na hora marcada.
A Apoteose estava bem cheia. Algo entre 30 e 35 mil pessoas aguardavam o início do show do Sebastian Bach, ex-vocalista da banda Skid Row, sucesso no início da década de 90, que faria a abertura da noite (antes ainda se apresentou a banda carioca Majestike, que não tive a oportunidade de assistir).
Às 21h10 Sebastian subiu ao palco. Ao contrário do que veríamos no show seguinte, ele esbanjou simpatia, conversando o tempo todo com o público, usando e abusando das frases “coladas” em português. No repertório, como esperado, as músicas que mais levantaram a galera foram as de sua antiga banda: “Slave to the Grind”, “Monkey Business” e, principalmente, as baladas “18 & Life”, “In a Darkened Room” e “I Remember You”. Todas dos dois primeiros álbuns da banda: "Skid Row", de 1989 e "Slave to the Grind", de 1992. A voz de Bach segue em forma e a banda que o acompanha, mesmo sem um grande destaque, segura a onda.
Às 22h30 Sebastian Bach encerrou o seu show e o martírio se iniciou. Frequento shows há pouco mais de quinze anos, entendo que existe um tempo necessário para se desmontar o equipamento de uma banda e montar o palco para a apresentação seguinte. 40 minutos ou até 1 hora é mais do que suficiente. Assim sendo, pouco antes das 23h30, tudo estava pronto e não havia mais movimentação no palco. Se não fosse o Guns N´Roses que iria se apresentar, isso significaria que o show estava para começar.
Mas com Axl Rose as coisas não são assim. Em todos os shows da turnê sulamericana ele atrasou o show em duas horas ou mais. E era esse o receio que rondava a Apoteose àquela altura. Já passava da meia noite, o som mecânico seguia rolando e a platéia demonstrando nítidos sinais de impaciência. Vaias, xingamentos e um princípio de confusão quando alguns mais exaltados começaram a atirar copos e latas no pessoal da mesa de som, formavam o cenário provocado pelo estrelismo de Axl. Muita gente foi embora nesse longo intervalo.
Eis que, finalmente, 1h da manhã Axl Rose deu as caras. Abriram o show com a faixa-título de seu último disco, “Chinese Democracy”. Ao fim da primeira música ainda era possível ouvir vaias e adjetivos carinhosos dirigidos à mãe de Axl. Depois disso começou a sequência de sucessos que fez do Guns N´Roses a maior banda de rock do planeta há quase vinte anos atrás: “Welcome to the Jungle” e “Sweet Child O´Mine” (de Appetite for Destruction, 1987), “You Could Be Mine” (de Use Your Ilusion 2, 1991), “November Rain” (de Use Your Ilusion 1, 1991), além dos covers “Live And Let Die” (Paul McCartney, 1973) e “Knockin´ On Heaven´s Door” (Bob Dylan, 1973).
O show seguiu com uma mescla entre antigos sucessos e músicas do último disco. A voz de Axl está bem melhor do que na época do Rock in Rio 3, em 2001, mas bem distante das gravações originais. O resto da banda é extremamente competente (apesar de um pouco numerosa demais: pra que três guitarristas e dois tecladistas?) e os efeitos de luzes e fogos interessantes. Mas confesso que toda a espera e o desprezo da banda com o público (nem um “Good Evening”, que dirá um pedido de desculpas pelo atraso, foi ouvido) tiraram um pouco da graça do show. Já próximo das três da manhã, entreguei os pontos e fui embora.
Fiquei sabendo depois que o show acabou às 3h30 e que perdi as clássicas “Paradise City” (de Appetite for Destruction, 1987) e “Patience” (de G N´R Lies, 1988). Se bem que a paciência eu já tinha perdido há muito tempo.